sábado, 29 de junho de 2013

Conversações VI: os acasos do destino

Tu me conheceria tão bem
que conheceria até
o que eu conheço de ti.
Não sei,
mas acasos acontecem.
Rupturas sempre podem ser promessas.
Laços só são feitos quando temos pontas soltas.
Quer algo que deixe mais pontas soltas do que rupturas?
Mas, ainda assim,
eu nao quero que fiquem soltando minhas pontas o tempo todo
pra elas ficarem balançando no vento
até se enroscarem com outras pontas.
A promessa inscrita numa ponta solta é a memória de uma dor
e a esperança de que a dor terminou.
Nossa, como a gente tem assunto.
Quando não tem, a gente inventa.
Tua intenção, às vezes,
pode até não ser provocar o pensamento,
mas sem dúvida alguma também não é passar despercebida.
A complexidade é sempre mais atraente que a coerência.
É reconfortante pensar que algumas coisas tem de ser
ou não eram pra ser.
O peso do destino nos torna mais leves.
O peso do destino retira o peso da escolha.
O destino está sempre fora de nós,
mas, a escolha, a carregamos para onde formos.
O acaso é derrotado com a palavra dita

Há acaso com sentido?

Há acaso consentido?

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Parceria com Paula Helena.

sexta-feira, 28 de junho de 2013

Conversações V: fugas (im)possíveis

a razão é uma prisão sem grades          
e sem tamanho fixo
sim!! pra onde fugir, se a cela é tudo?
para onde fugir, se a cela é você?
mas há que se fugir,
escapar, deslizar, evaporar,
perder-se
e não se procurar.

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Parceria com Paula Helena.

quarta-feira, 26 de junho de 2013

Conversações IV: retratos de outras vidas

Eu não gosto muito na hora de tirar,
mas adoro guardar fotos.
Eu adoro tirar fotos,
mas nunca gosto delas depois.
Eu adoro lembranças,
fragmentos,
caminhos que a gente traça e retraça
em pedaços dos outros
e de nós mesmos.
Tem tanta coisa que a gente passa e,
quando passa,
parece que foi em outra vida.
A foto está aí pra dizer que não.
A foto está aí pra mostrar que existem outras vidas além dessa,
pois já existiram
e existirão.
Só não acredita em outras vidas
quem não revê as próprias fotografias.
Tem tanta coisa que lembra outra vida...
Tudo é fotografia:
pedaços de nós,
pedaços dos outros.
Virou fotografia quando apreendeu o fragmento
Virou fotografia
quando
a
  lembrança
               perdeu
           o
       m
         o
            v
               i
                  mento.

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Parceria com Paula Helena.

terça-feira, 25 de junho de 2013

Conversações III: escritas de si

Não tenho tido o cuidado de prestar atenção
nas poesias ultimamente.
Tem coisa tão bonita,
mas tem tantas outras que eu quero escrever na parede.
Ter as palavras inscritas nas paredes:
Elas se inscrevem primeiro na gente...
Elas já estão inscritas muito tempo antes de conseguirmos escrevê-las,
mas reinscrevê-las nas paredes da casa
é atravessarmos, mais uma vez, nossa pele com elas.
Talvez um dia eu fale essa frase
em outro contexto
para outras pessoas
e no meio do caminho
vou lembrar de onde ela veio.
Mesmo coisas aparentemente universais
só produzem efeitos pessoais.
Impressionante como traduzimos tudo para o nosso mundo,
pra nossa vida,
e só dentro disso as coisas fazem sentido.
Nesse espaço que se abre
entre aquilo que tu me diz
e aquilo que eu leio
o motivo pelo qual tu escolhe a passagem, aquilo e naquilo que ela te toca
podem ser os mesmos que os meus,
mas podem ser completamente diferentes.
A única comunhão que temos é a emoção da leitura,
o abismo do intenção do significado
e da interpretação dele.
Será a pele o nosso limite?
ou o olho?
Acho que é a palavra.
Se fosse a palavra,
o que diríamos do silêncio?

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Parceria com Paula Helena.

segunda-feira, 24 de junho de 2013

Conversações II: educação sentimental

Não falo muito dos meus amores...
É uma boa prática para manter o seu coração seguro...
Assim nunca se sabe muito bem onde ele se esconde,
logo nunca se sabe tampouco (como) atingi-lo
Pra quem acredita que o coração esta a salvo de qualquer coisa
Ou pra quem tenta se convencer disso.
O coração nunca está a salvo.
Chaves, cabeça e coração:
três coisas que nasceram para serem perdidas.
Só com o coração mais crescido é que a gente consegue sair deixando
pedaços dele por aí.
Parece que a gente dá conta das coisas
exatamente do jeito que a gente precisa dar conta delas.
Definitivo... haha!
Quem foi mesmo que disse que "pra sempre é sempre por um triz"?
Definitivo é isso.
Sempre por um triz.
Diz,
é perigoso a gente ser feliz?

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Parceria com Paula Helena.

domingo, 23 de junho de 2013

Conversações I: a raridade do encontro

Loucura que é o tempo e o encontro:
o que foi, o que teria sido, o que será,
se as circunstancias fossem essas, se fossem outras..
justamente por conta desses quase encontros...
quase-encontros,
semi-vividos.
Viver plenamente os quase-encontros,
entender essas metades como uma (in)completude válida,
incrível
ou até necessária.
Coincidências que levaram as coisas a ser do jeito que são
e que as levarão a ser do jeito que serão.
Um minuto a mais ou a menos em algum lugar,
uma palavra dita ou calada,
um gesto...
quanta coisa tem que se combinar pra resultar no agora.
Onde estamos e quem somos hoje
é não só aquilo que fomos positivamente,
mas também a soma das nossas ausências.
Mas, de fato,
quando paramos para pensar nas infinitas possibilidades que se abrem,
e nos damos conta da quase impossibilidade
de algo que hoje é um fato,
tudo porque alguém talvez decidiu (ou não) esperar mais ou menos 10 segundos.
A vida é rara
É feita de raridades
E ainda assim às vezes a tratamos
como se a encontrássemos em todos os lugares.

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Parceria com Paula Helena.

domingo, 16 de junho de 2013

Tarde demais

Meu amor,
já era tarde demais.
Meu amor já era tarde demais.
Meu amor já era
e tinha a inevitabilidade das palavras ditas.