terça-feira, 9 de setembro de 2014


E então ele gritou.
Levou as duas mãos à boca e gritou.
Estendeu os braços perpendicularmente ao corpo,
espalmou as mãos
e gritou.
Gritou.
Pediu.
Implorou.
Prostrou-se diante dela e pediu-lhe que parasse.
Chorou, e como chorou.
De nada adiantou.
Ela, impassível, seguiu em frente,
sem dar ouvidos a súplicas,
nem secar lágrimas.
A vida não para.
Jamais.
Nem mesmo para seu pretenso dono.

quinta-feira, 28 de agosto de 2014

O que nos falta?

O que nos falta?

Temos beijos, carinhos, abraços.
Temos a saudade um do outro.
Temos o desejo do contato.
Temos as horas que passam como minutos.
Temos as horas que demoram como dias.
Temos as conversas que parecem intermináveis.
Temos os silêncios que prescindem de palavras.

Se temos tudo,

O que nos falta?

Falta, talvez, não perguntar mais nada.

Nem mesmo o que nos falta.

Falta, talvez,

não ter sentido perguntar.

segunda-feira, 24 de fevereiro de 2014

A vida e o texto

Um texto é muito mais do que palavras.
A vida é muito mais do que momentos.
Uma junção de palavras não faz um texto.
Uma junção de momentos não faz a vida.
O texto está no espaço vazio entre as palavras.
A vida está no espaço vazio entre os momentos.
Mas se no espaço entre as palavras há o texto,
Mas se no espaço entre os momentos há a vida,
Já não pode ser vazio, o que é texto.
Já não pode ser vazio, o que é vida.
A vida é muito mais do que palavras.
O texto é muito mais do que momentos.

sábado, 8 de fevereiro de 2014

Quanto?

Quantas vezes é preciso te querer
Até deixar de te querer?
Quanto riso,
Sorriso,
Siso,
É preciso ver passar
Não, assim, para te esquecer,
Mas apenas para não lembrar?
Que falta me faz tua presença
Que nem mesmo a tua ausência
É capaz de superar?
Quantos caminhos não seguidos,
Beijos reprimidos
(Medos suprimidos?),
Terão ainda de acontecer,
Não, assim, pra te esquecer,
Mas apenas para não lembrar?
Quantas noites mal dormidas,
Bebidas,
Vindas e idas,
Deverão seguir seu rumo
Até que eu tome prumo
E diga: não mais!?
Quantos olhares trocados
Silenciosamente, quantos fados,
Quantas vezes terei de te amar,
Não, assim, pra te esquecer,
Quantas vezes é preciso querer
Apenas para não lembrar?

terça-feira, 4 de fevereiro de 2014

Ironia



Eu sou fogo,
Ele quer água.
Eu sou dúvida,
Ele quer certeza.
Eu sou palavras
Quando ele quer silêncio.
Eu seria tudo
Se ele não quisesse nada.

Eu sou distância,
Ele quer presença.
Eu sou fé,
Ele quer ciência.
Eu sou luxúria,
Quando ele quer decência.
Eu seria tudo
Se ele não quisesse nada.

O nós virou um nó.
O que era dois
Virou um só.

Ele é loucura,
Eu sou sanidade.
Ele é aventura,
Eu sou eternidade.
Ele é fúria
Quando eu quero tranquilidade.
Ele seria tudo
Se eu não quisesse mais nada.

Ele é vida,
Eu sou pura morte.
Ele é destino.
Eu? Pouco mais que sorte.
Ele é compromisso
Quando o que eu quero é uma cilada.
Ele seria tudo
Se eu não quisesse mais nada.

O nós virou um nó.
O que era dois
Virou um só.

Eu sou samba,
Ele quer valsa.
Ele toca rock
Enquanto eu danço salsa.
Eu sou hoje,
Ele, vida inteira.
Eu sou uma piada.
Ele não entende a brincadeira.
Eu sou povo,
Ele é realeza.
Ele quer cinema
Quando eu sou fotografia.
Ele é casamento
Quando eu estou na orgia.
Ele não fala minha língua
Quando minha língua fala.

O nós virou um nó.
O que era dois
Virou um só.

segunda-feira, 3 de fevereiro de 2014

O coração tem músculos que nunca paramos de exercitar.
Até que para.
Uns, por paixão.
Outros, por infarto.

quarta-feira, 22 de janeiro de 2014


Algumas pessoas têm tanto prazer em transformar o amor em uma disputa que nem percebem quando já o ganharam - nem mesmo quando o amor estava ali, desde o início, de braços abertos para elas.

sábado, 18 de janeiro de 2014

Eles



Eles dizem que não são racistas
Mas não nos veem por causa de nossa cor
E eles falam
E eles passam
E a gente segue.

Eles dizem que apoiam a livre-iniciativa
Desde que essa iniciativa seja a de fazer o que eles querem
E eles falam
E eles passam
E a gente segue.

Eles dizem que são contra a homofobia
Mas nos proíbem até mesmo de dar um beijo (quem pode ser contra um beijo?)
E eles falam
E eles passam
E a gente segue.

Eles dizem que isso aqui é uma democracia
Mas decidem por nós todos os dias (só porque não sabemos fazer escolhas, dizem)
E eles falam
E eles passam
E a gente segue.

Eles dizem que são a favor da vida
Mas nos matam um pouco (e aos poucos) todos os dias (nossa vida também é vida, não?)
E eles falam
E eles passam
E a gente segue.

Eles dizem que essa é a única via
Mas por que parece que ninguém está do nosso lado?
E eles falam

Nos calam

E a gente cede.

quarta-feira, 15 de janeiro de 2014

sexta-feira, 10 de janeiro de 2014

À flor da pele

"Bem-me-quer?"
"Mal-me-quer?"
"Vem-me-quer."
"Vem-se-quer."
"Tem-quem-quer."

Tem gente que nos despetala assim
À flor da pele.

terça-feira, 7 de janeiro de 2014

No más que un recuerdo

Quiero cerrar mis ojos
Y ver en la distancia lo que pasa con tus ojos
Y aún no serás más que un recuerdo.

Quiero tocar mis manos
Y sentir en ellas el olvido de tu piel
Y aún no serás más que un recuerdo.

Quiero sentir el aire
Y tener mis narices llenas de tu olor
Y aún no serás más que un recuerdo.

Quiero tener en mi cuerpo
el dibujo de las curvas de tu cuerpo
Y aún no serás más que un recuerdo.

Quiero besar otras bocas
Buscando con mis labios el gusto de tu boca
Y aún no serás más que un recuerdo.

Quiero cruzar el mundo
Para que a cada paso un dia te extrañe menos
Y aún no serás más que un recuerdo.

El mejor recuerdo que he tenido.

quinta-feira, 2 de janeiro de 2014

Latinoamericanidad


Hoy yo siento.
Siento que aún hay luchas,
impostergables luchas.
Hoy siento que aún hay vida,
solamente la vida,
con su urgencia de venir a ser.
Hoy siento que aún hay historias que escribir.
Hoy siento que aún hay poesía.

Tengo diez compañeros caídos de un lado,
tengo trescientos caídos al otro,
pero nos vamos.
Hay que continuar.
Lo que nos ata ya no son nuestros sueños,
sino la voluntad de no quedar dormidos.
Aún hay luchas,
Aún somos nosotros.

Hoy.

Aún.